24.9.07

Ando a procura de preciosidades imprecisas
Impressões desbotadas
Datas perdidas
Rostos familiares e sem nome

Ando a procura de algo importante
Que se dissolveu no cotidiano
E que agora, tem gosto de ar

Marcos indistintamente relevantes
Que procuro sem referências
Como sensações sem sentido

Preciosidades imprecisas
Lembranças amnésicas
Do que não encontro
Do que procuro sem procurar 

19.9.07

De um passado esquecido num universo paralelo e bem mais dramático.



A volta

A volta
Tudo se repete
De uma forma de outra
Eu sei muito bem o que virá
A volta
Tudo roda , e finge que muda
Mas no fundo, é tudo igual
Só mudam as posições
A volta
E volta com outra embalagem
Outra denominação
Mas, volta
E é tudo o mesmo
Mesmo que dessa vez
Eu não gire junto
A volta
E nesse giro me puseram
Para observar
A volta
Mas eu quero parar a rotação
Traçar novo destino
Mudar a direção
Mas
A volta
Volta impiedosa
Não pára de girar
E centrifuga o que encontra
E despedaça
E desmonta para depois remontar
E jogar de volta
Na volta

7.9.07

Olho o movimento para espantar o sono. Carros, motos e caminhões. Gente apressada, gente à passeio. Gente sozinha, gente em grupos. Gente calada e gente falante. Mas , é um esforço imenso. Nem o bailado frenético da cidade me mantém alerta. Há muito, atendi o chamado da Lua e troquei o dia pela noite. Agora, pago o preço : a boca abrindo, as pálpebras pesadas . Se não fosse o Sol, à pino, ferindo meus olhos, faria como os mendigos e me entregaria à Morfeu no duro assento do ponto de ônibus.
Um despertador móvel me tira do do transe. Do outro lado da linha, alguém me diz que tenho que ir ao banco. Mais uma espera numa vida de esperanças. Na agência sonambulo, quase não ouço o caixa dizer: “-O próximo!”. Apanho a condução.Entre um microcochilo e outro penso : próximo o que ?





Satori II (a poesia)

Quero me partir em infinitas partículas
Virar do avesso
Me dissolver no espaço
Quero perder a forma
Quero respirar o ar
E ser como vento e vapor
Quero beber da fonte
Deslizar minhas águas
Beijar o marcadores
Navegar minhas marés
Quero me aquecer
E crepitar como fogueira antiga
Quero pôr meus pés no chão
Ser cada grão
Do litoral às serras
Quero gritar
Ser palavra e som
Quero saciar minha fome
Ser a fruta e semente
Quero abrir meus olhos
Ser a paisagem e a visão
Quero o contato ilimitado
Ser a pele e o tocar
Quero ser a existência
Sem artigo, nem pronome
Quero apenas ser
Estar
Existir...






Insone, não vejo direito as vírgulas. Sonambula, esqueci o que é o ponto.
Nos meus sonhos despertos, quem manda, são as reticências...

3.9.07

Sem querer me depreciar, mas já me depreciando ...
Acho que posso fazer melhor .
Menina bolha de chiclete ? Onde eu estava com a cabeça ?

2.9.07

A vida é como uma menina de treze anos gordinha, vestindo um caso de lã grossa ,cor de rosa , que a vó tricotou a mão .Contente , apesar do casaco a deixar mais gorda . Uma bolha de chiclete cheia de ilusões .
Se você tocar , estoura .




Ps: pro desespero dos especialistas em feng shui , o casaco ainda está no meu armário.

Praia Seca Blues


Eu sinto gosto de sal
Eu sinto cheiro de sal
E areia sob os meus pés
E eu vejo a imensidão azul
Infinitamente azul
Um silêncio árido
Ou o chiado do mar
Eu tenho sal nos lábios
Na pele
Nos olhos secos
Eu tenho sal na voz
E a imensidão azul
Infinitamente azul
Praia Seca blues
Eu canto desafinado
Pra espantar a solidão
Praia Seca blues
Fora do ritmo
Pra fazer o tempo passar
E o sudoeste arranca as raízes
Anuncia o temporal
Uma chuva que não molha
Que não lava
Uma chuva de sal
Praia Seca blues
Eu canto fora do tom
Pra mergulhar na ressaca azul
(Cinzentamente azul)
Praia Seca blues
Eu canto sem saber cantar

Relendo o texto anterior, percebi que pode ser inevitável , apesar de eu odiar . Mas, não teve escapatória ,me soou piegas.

1.9.07

Tênis, luzinhas vermelhas e a princesa cogumelo

De tempos em tempos, eu digo que estou sem inspiração, que estou sem assunto. Mas a questão não é , necessariamente, uma falta do que dizer. Sim, uma dificuldade em explicar algo que parece não ter forma , não ter começo, nem fim . Como pôr em palavras o que senti , um dia , ao ver um par de tênis dependurado nos fios elétricos de uma rua qualquer. Como mostrar a importância que aqueles objetos vulgares, numa situação ainda mais vulgar tiveram para mim se, provavelmente, os pés que os calçaram durante algum tempo, já devem tê-los esquecido ? E sem parecer piegas, porque eu odeio parecer piegas.
'Tá, tudo bem que não é tão incompreensível assim , alguém já mostrou, com imagens, o balé de uma sacola plástica flutuando com o vento e funcionou . Quem não viu Beleza Americana ? Porém, eu não uso câmeras , e não sei como traduzir, em literatura , tênis em fios e o meu fascínio pelas luzes de alarme dos carros. Isso mesmo , eu estou falando daquelas luzinhas vermelhas , aquelas que ficam no painel, ou próximo, dependendo do modelo. E que piscam, indicando que o alarme está ligado e pronto pra fazer um estardalhaço , caso algum gatuno tente levar o veículo . Eu sou fascinada por elas .
Do meu apartamento, eu fico observando esses pequenos vagalumes eletrônicos , aprisionados em suas gaiolas de metal, vidro e plástico, piscando incansáveis, madrugada à dentro. Tão solitários. Minúsculos cães de guarda sem alma . Estrelinhas vermelhas , que brilham ignoradas, para que alguns durmam em paz .
Mas acho que ninguém percebeu isso. E, talvez, nem devesse. Se alguém percebesse , veria logo que, nessas poucas linhas , eu não pude fazer jus ao que senti.





De uns dias pra cá , duas palavras emergem da minha mente : princesa cogumelo. A única coisa à que me remetem é à personagem do jogo Mario Bros .
A memória é mesmo um troço bem esquisito.

26.8.07

Ainda lutando contra brancura da tela

Pseudo escritora de museu , que mantem , desorganizadamente , cadernos, bloquinhos e papéis rascunhados de todo tipo , fica acanhada diante de um quadradinho de 17 polegadas.
Faz parte da minha natureza nostálgica.
Tenho, até hoje, a Olivetti Lettera 82 que ganhei no meu aniversário de 9 (ou 10) anos.



Infinitos Perdidos
poesia sem ponto


Infinitos perdidos sob máscaras pálidas
Sem choro nem riso
Infinitos perdidos nas profundezas
De olhos sem face
Sem brilho
Infinitos perdidos sob silêncio ensurdecedor
Sob lábios descorados
Cerrados
Infinitos perdidos
Esparramados em alma desterrada
Exilada em ponto distante
De sua própria raiz
Infinitos perdidos na ausência de sentido
Que o nome que lhes cabe
Arrasta
Por fronteiras apertadas
Infinitos perdidos
Atrelados à correntes
Pesadas e invisíveis
Infinitos perdidos num grão de poeira
Na cabeça de um alfinete
Num átomo comprimido




Vão mudar a ortografia brasileira ano que vem. E eu , ainda nem aprendi a escrever com a vigente...